A experiência de Guilherme Bellintani com Sociedade Anônima do Futebol (SAF) foi tão positiva que, após ser decisivo no processo de venda de 90% da SAF do Bahia ao Grupo City, em 2022, o ex-presidente do Tricolor montou sua própria plataforma multiclubes: a Squadra Sports. O gestor é uma voz ativa sobre o assunto no cenário brasileiro e avaliou os primeiros anos da Lei 14.193, ou Lei da SAF, criada em 2021, em entrevista ao Globo Esporte BA e ge.

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Guilherme Bellintani deixou a presidência do Bahia no final de 2022. Desde então, ele montou uma rede multiclubes que istra o Londrina (Paraná), Linense (São Paulo), VF4 (Paraíba), Ypiranga (Salvador) e o Conquista (Vitória da Conquista). E negocia para adquirir um sexto clube, em Portugal. O empresário não esconde: quer que seu grupo seja o maior exportador de jogadores do Brasil.

O modelo é cada vez mais comum no Brasil que, em quatro anos, superou a casa das 60 SAFs espalhadas pelo país. Os exemplos vão desde equipes do interior, sem divisão nacional, até o Botafogo, atual campeão Brasileiro e da Libertadores. No entendimento de Bellintani, mesmo com tantos casos, ainda é cedo para tratar a SAF como um modelo consolidado no futebol brasileiro.

– Acho que é muito cedo para dizer que já é uma realidade consolidada. Acho que é um processo de transformação como esse, pelo menos nos primeiros cinco anos, vamos ver muita coisa se ajustando. Erros sendo cometidos, acertos sendo repetidos. Acho que depois desses cinco anos é que vamos ver como o movimento se consolida para a gente dizer que supera uma primeira etapa de implantação das SAFs no Brasil – disse o gestor.

"Clubes que antes diziam que não queriam SAF estão se abrindo e entendendo que precisam. Outros estão entendendo que, para enfrentar as SAFs, precisam se organizar. Então esse é um movimento muito interessante. Palmeiras e Flamengo, por exemplo, se anteciparam a isso e se organizaram antes", completou.

Guilherme Bellintani, que foi presidente do Bahia de 2018 a 2022, também alerta que aderir ao modelo de SAF não significa fim dos problemas.

– As SAFs também erram, é importante dizer isso. O investidor, às vezes, se engana ou está despreparado. É comum a gente ver SAFs que não deram certo porque o investidor não sabia o que queria. Em regra, o investidor sabe o que quer, mas ele também comete erros e se perde muitas vezes. (...) Essa ideia de achar que SAF é a salvação não existe. O que a gente tem é uma tendência de ter nas SAFs um projeto mais organizado – ponderou Bellintani.

Enquanto presidente do Bahia, Bellintani foi o responsável pela negociação da SAF tricolor ao City Football Group, maior conglomerado de clubes do mundo. Desde que foi oficializada a venda, em 2023, o Bahia alcançou a sua melhor colocação na história dos pontos corridos, com o oitavo lugar em 2024, e voltou a disputar a Libertadores após 35 anos. Além disso, a equipe baiana teve as suas dívidas liquidadas e projeta o maior centro de treinamento da América do Sul.

– A gente começou o processo logo após a aprovação da lei, em 2021. É uma lei que faz agora quatro anos. Logo no começo a gente estudou o projeto, fez um projeto para o clube, e só depois buscou um investidor para o projeto. A gente fez todo esse processo de forma razoavelmente rápida para conseguir pegar um bom investidor na frente de outros clubes, mas ao mesmo tempo com a cautela necessária. Foi uma mistura de velocidade com cautela, que combinou para um bom investidor e um projeto de longo prazo – recordou Bellintani.

CBF e calendário

Durante a conversa com o ge, Bellintani também falou sobre a recente eleição da CBF e apontou o que deveria ser prioridade para a entidade máxima do futebol brasileiro: calendário, Fair Play Financeiro e a profissionalização da arbitragem.

– Para mim está muito claro que o calendário do futebol brasileiro é difícil. A gente tem os estaduais, e os clubes do Nordeste ainda têm a Copa do Nordeste. É uma dinâmica difícil porque a gente não vê nenhum clube dizer que não quer jogar o estadual ou a Copa do Nordeste. Então é um dilema que não pertence exclusivamente à CBF, pertence também aos clubes – inicia o gestor.

– A dinâmica do calendário não vai ser resolvida com uma canetada da CBF, vai ser resolvida a partir de uma repactuação dos interesses dos clubes e também da CBF. Temas como Fair Play Financeiro, profissionalização da arbitragem e o calendário precisam ser enfrentados, mas não são de responsabilidade única da CBF. A CBF precisa criar regras, mas os clubes precisam cumprir essas regras – completa Bellintani.

Squadra Sports

Depois que deixou a presidência do Bahia, Guilherme Bellintani ou a gerenciar a Squadra Sports, que segue o modelo do Grupo City. Bellintani explica que o projeto está no seu primeiro ciclo de seis anos e tem como meta "ser um dos maiores exportadores de jogadores de futebol do Brasil".

– O projeto da Squadra Sports é formado em um primeiro ciclo de seis anos, de 2025 a 2030, com objetivo de ser um dos maiores exportadores de jogadores de futebol do Brasil . A gente quer ter mil jogadores na plataforma, lastreados em dois clubes profissionais: Londrina e Linense-SP. E três clubes de base: VF4 (Paraíba), Ypiranga (Salvador) e o Conquista (Vitória da Conquista) – relata o gestor.

O dirigente afirma que o grupo está em negociação para a aquisição de mais um clube, desta vez de Portugal .

– Com essa plataforma, somada a um clube de Portugal, que estamos em negociação, a gente quer ser o primeiro multiclubes nascido a partir do Brasil. O projeto está em plena construção, trabalhando bastante para esse novo ciclo do futebol brasileiro.

– A gente não precisa encontrar o super craque. O futebol brasileiro tem uma riqueza de atletas. Se a gente conseguir atrair bons jogadores, mesmo que não encontro o super craque, o nosso projeto vai ter valido a pena – finaliza.